segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A Formação do Romance Angolano, de Rita Chaves

A Formação do Romance Angolano:
Entre Intenções e Gestos, de Rita Chaves




Resenha por André Luís da Silva Sampaio - Mestrando em Letras – Universidade Federal Fluminense - Brasil
E-mail: andresampaio2000@yahoo.com.br


Rita Chaves, professora doutora do departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Uiniversidade de São Paulo, publicou pela área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa a obra "A Formação do Romance Angolano: Entre Intenções e Gestos". neste livro, que foi sua teses de douturado defendida em 1993, Rita, pioneira neste estudo, analisa a obra de quatro dos grandes autores angolanos: Assis Jr, Castro Soromenho, Oscar Ribas e José Luandino Vieira. Rita Chaves não elegeu esses autores ao acaso, pois eles foram os responsáveis pela iserção do gênero na literatura angolana.

A literatura como já se sabe, possui um papel singular na busca da identidade nacional, foi através dela e da arte em geral, que o Brasil conquistou essa noção de nacionalidade; e em Angola também ocorreu o mesmo processo. A literatura, principiada pela impresnsa levou Angola à independência tomados pelo exemplo do Brasil, angolanos encontraram na literatura a arma necessária para garantir sua libertação do domínio português.

O Livro divide-se em nove partes, contanto com o prefácil do escritor Pepetela, expoente da literatura africana de língua portuguesa. Logo em seguida, Rita traz uma introdução abordando o trajeto dos escritores no ato de escrever e da luta pela independência através da literatura. Traz também na introdução, o difícil cenário encontrado em Angola tendo sua identidade dividida e transformada pela colônia portuguesa.

Ainda na introdução, Rita como na obra inteira, elucida a importãncia da tradição oral na preservação da memória e da tradição:

"Como em tantos outros lugares as "estórias" contadas pelos mais velhos, conforme declara Manoel Rui, cumpriam o papel de transmitir a sabedoria e humanizar o reino das relações que os outros elementos completavam. (CHAVES, 1993, p.20)



Em contra partida, Rita apresenta o papel que a escrita teve na organização social em Angola depois do atirar dos canhões e completa dizendo:


Trazida com os tiros, a escrita corresponde a uma espécie de ruptura que será convertida em nova forma de sentir e dizer. Transformando-se em maneira de  presentificar experiências e organizar o real, a palavra vai sendo trabalhada no sentido de preencher o vazio entre o homem e o mundo, agora redimensionado, nessa nova etapa do chamado processo civilizatório. Violenta e irreversível, a quebra se deu; mais tarde, caberia à literatura ali produzida a tarefa de rejuntar pedaços para a composição de uma nova ordem. - (CHAVES, 1999,p.20)



No capítulo seguinte, intitulado Literatura e nacionalidade no Contexto colonial, depara-nos com o processo pelo qual o homem angolano foi submetido a passar e dele encontrar saidas para combater o inimigo próximo na busca do seu lugar, primeiramente como ser humano e em seguida como um homem que possui nação e identidade própria. E assim, a autora parte para o capítulo seguinte, Assis Jr.: A opção pelo Gênero, iniciando sua análise principal, que é a de encontrar através da obra dos autores escolhidos, o nascer da indentidade nacional angolana após o dominio português.

Os capítulos seguintes, Castro Soromenho: a matriz Neo-Realista, Oscar Ribas: Tradição e Pudor na busca da identidade Nacional e José Luandino Vieira: O Verbo em Liberdade, Rita parte para a análise profunda da obra desses autores e enfatiza cada traço marcante e cada papel que cada um obteve na formação do romance angolano e na formação da tão sonhada identidade, verdadeiramente angolana. Depois da leitura de dez obras escritas pelo autores acima citados, o último capítulo, a conclusoa, finaliza a obra "A Formação do Romance Angolano". Na conclusão Rita enfatiza o poder da tradição oral, que garantiu o recontar das estórias guardadas pelos mais velhos e retomadas pelos escritores. Em um outro molde, o romance, que nasce em Angola para garantir de certa forma, a memória de seu povo, qeu durante muito tempo correu o risco de desaparecer. Mas que pela astúcia e coragem dos escritores permanece viva palara Angola e para o resto do Mundo, inclusive Portugal.

O trecho a seguir, do prefácil escrito por Pepetela, traduz o sentido de toda a obra, abordando a realidade vivida pelos autores e transportadas para seus livros:


"castro Soromenho tratou decididamente situações não só rurais mas também de zonas muito afastadas dos principais centros urbanos da costa. Assis Junior é ainda em certa medida um homem do século passado, enquanto Luandino Vieira é produto da Segunda Guerra Mundial. Oscar Ribas tem posições políticas menos evidentes que os outros. Diferenças, diferenças... E no entanto há uma mesma alma a vibrar, há esperanças soltas no ar, apregoadas na obra de uns, apenas murmuradas na de outros. Mas em todas elas podemos ler uma nação a despontar.(Pepetela apud CHAVES, 1999, p.15.)

Segundo, ainda Pepetela, Rita Chaves ao "tratar da formação do romance angolano a partir de quatro escritores de origens e vivencias muito diferentes", acabou por ligar "estreitamente essa gêneses à do nacionalismo"(Pepetela apud CHAVES,1993, p.14.) De fato, Rita através de sua análise traz a tona o verdadeiro desejo dos autores, denunciar a condição de colonizados no sentiro de obter a libertação, desejada desde o século XIX.


A obra é riquíssima em vários aspectos, desde de sua apurada escrita até o seu relevante tema, que envolve a cada capítulo lido. Rita Chaves possui um olhar crítico e dinâmico do processo ocorrido em Angola e por isso fala com propriedade de cada fato importante na obtenção da liberdade e na reconstrução da nação angolana.

Rita Chaves traz de volta a importância dos estudos da oralidade, que na atualidade ganham um novo espaço dentro dos centros acadêmicos de todo mundo. Pelo fato de ser pioneira no Brasil na área, e por ter defendido sua tese em 1993, Rita não citou autores de extrema importância, como Paul Zumthor que trata do tema oralidade na obra a Letra e a Voz (Companhia das Letras, 1987) e Hommi Bhabha e Stuart Hall que lidam diretamente com os aspectos culturais como a diáspora, efeitos da colonização e da sobrevivência das minorias, de certo, pelo fato de serem teóricos modernos. Se a obra de Rita Chaves ganhasse uma nova ed ição seria de extrema
valia a inserção dos conceitos dos teóricos mencionados. Porém, A Formação do Romance Angolano: Entre intenções e Gestos , não deixa de ter uma grande importância no estudo literário e histórico, já que através de sua leitura o Brasil pode conhecer um pouco mais da arte dos nossos nobres vizinhos africanos, que se comunicam com a mesma língua, a portuguesa, e possuem a mesma condição: a de um país que busca a sua própria identidade.


CHAVES, Rita. A Formação do Romance Angolano: Entre Intenções e Gestos.
Coleção Via Atlântica, n° 1. São Paulo, 1999

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