quarta-feira, 10 de novembro de 2010

IV Encontro de Cinema Negro Brasil - Festival e Seminário Cine afro (Cabo verde) no Odeon‏

V Encontro de Cinema Negro Brasil que acontecerá de 8 a 14 de novembro de 2010! Não Perca!!!




PROGRAMAÇÃO:

08 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR

17h
Mesa de Abertura

18h30
O Papel e o Mar | 15’
Luiz Antonio Pillar

Broder | 93’
Jeferson Dê (SP)

ARMAZÉM 6 – Cais do Porto

20h30
Cocktail

09 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR

14h
Mumbi | 7’
Viviane Ferreira (SP)

Black in Berlin | 13’
Sabrina Fidalgo (RJ)

Copa Vidigal | 75’
Luciano Vidigal (RJ)

16h Cada fio uma história | 7’
Estimativa (RJ)

Milton Meia Dúzia | 12’
Paulinho Sacramento (RJ)

Noitada de Samba | 75’
Cely Leal

ARMAZÉM 6 – Cais do Porto

18h30
Lançamento do Projeto do DVD Memória dos Destaques em curta metragem dos Encontros de Cinema 2007, 2008, 2009 e 2010.

19h30 – Clássicos
Alma no Olho | 11’
Zózimo Bulbul

Retrato em branco e preto | 15’
Joel Zito Araújo

O Papel e o Mar | 15’
Antonio Pillar

Choro e Ladainha | 15’
Antonio Pompeo

Carolina | 14’
Jeferson Dê

Condição Humana | ??‘
Flavio Leandro

20h30 – Novos Realizadores
Mumbi | 7’
Viviane Ferreira (SP)

Rap de Saia | 18’
Janaina Oliveira

Neguinho e kika | 18‘
Luciano Vidigal (RJ)

Milton Meia Dúzia | 12’
Paulinho Sacramento (RJ)

Se todos fossem iguais | 17’
Fernando Barcellos (RJ)

Santas Ervas | 17’
Lincoln Santos

Ilha do rato | 18’
Joselito Crispim (BA)

22h
Festa

OI FUTURO em Ipanema

14h
Mujer | 4’
Jean Jean (Haiti)

16h
Tête Gréné | 86’
Christian Grandman (Guadalupe)
(Presença do diretor Christian Grandman)

10 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR

10h – Seminário SENEGAL
. A importância da União dos países africanos
. Senegal – 50 anos de independência
. A importância do renascimento africano

Sr. Abdou Salam Sall
Sr. Iba Der Thiam
Sr. Ndawear Touré
Sr. Amadou Lamine Faye
Sr. Mame Biram Diouf
Madiagne Diallo
Ousmane William Mbaye
Mansour Sora Wade
Mama Keita
Léandre Alain Backer
Zózimo Bulbul

14h
Mère-Bi, La Mère | 55’
Ousmane William Mbaye

Dieu a-t-il Quitter L’Afrique? | 52’
Musa Kala Dieng (Senegal)

16h
Ramata | 84’
Léandre Alain Backer (Senegal)

18h
Estreia de Renascimento africano | 51’
Zózimo Bulbul (RJ)

19h
L’Absence | 84’
Mama Keita (Senegal)

21h
Un homme qui crie | 92’
Mahamat Saleh Haroun (Chade)

CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL

14h
ASWAD – Diáspora Africana | 72’
Júlio Tavares

18h30
Oficina de Roteiro com Antonio Molina
Participação: Julio Tavares

OI FUTURO em Ipanema

14h
Abuona | 85’
Mahamat – Seleh Haroun (Chade)
Após a sessão, debate com o cineasta

16h
Darat |
Mahamat – Seleh Haroun (Chade)
Com a presença do cineasta

11 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR

10h – Seminário COSTA DO MARFIM
. 50 anos de independência da Costa do Marfim
. A libertação de Cabo Verde
. Literatura, cinema e a importância dos roteiros

Idriss Diabate – Costa do Marfim
Guenny Pires – Cabo Verde
Mahamat Seleh Haroun – Chade

13h
Le Raccourci Vers Le Soleil | 60’
Idriss Diabate (Costa do Marfin)

Wole Soyinka | 52’
Akin Omotoso (África do Sul/Nigéria)

15h30
Pour le meilleur et pour l’oignon | 52’
Sani Elhaj Magor (Nigéria)

Contrato | 77’
Guenny Pires (Cabo Verde)

17h30
Le Monologue de la Muette | 45’
Khady Sylla (Senegal)

Transport em Commun Saint Lous Blue | 48’
Dyana Gaye

19h
Alfa Blond | 90’
Antoinette Delafin-Cissé (Costa do Marfim)

21h
Darat |
Mahamat – Seleh Haroun (Chade)

CENTRO CULTURALJUSTIÇA FEDERAL

14h30
Le Raccouri Vers Le Soleil | 60’
Idriss Diabate

Wole Soyinka | 52’
Akin Omotoso
Debate com o cineasta Idriss Diabate

OI FUTURO em Ipanema

14h
Renascimento Africano | 53’
Zózimo Bulbul (RJ)

15h
Debate com cineastas
Zózimo Bulbul
Mansour Sora Wade
Madiagne Diallo

16h30
Oficina de roteiro com
Antonio Molina e Zózimo Bulbul

12 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR

10h – Seminário CARIBE
. O Festival Itinerante do Caribe e seus processos
. A Importância do Cinema na Reconstrução do Haiti
Rigoberto Lopez – Cuba
Christian Grandman – Guadalupe

14h
Anba Fey | 19’
Domenique Duport (Guadalupe)

20 anos | 20’
Bárbaro J. Ortiz (Cuba)

Uma Misma Raza | 20’
José Luis Neyra (Cuba)

El viaje más largo | 25’
Rigoberto Lopez (Cuba)

La Vie Rêvée de Sarah | 27’
Giscard Bouchette (Haiti/Fran)

16h
Cousines | 106’
Richard Senecal (Haiti)

18h
Mujer | 4’
Jean Jean (Haiti)

Tête Gréné | 86’
Christian Grandman (Guadalupe)

20h
Ramata | 84’
Léandre Alain Backer (Senegal)

OI FUTURO em Ipanema

14h
Bróder | 100’
Jeferson De
Debate com o cineasta

16h30
Oficina de roteiro com
Antonio Molina e Jeferson De

CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL

14h30
Renascimento Africano | 55’
Zózimo Bulbul (RJ)

Debate após a sessão com Ruth Pinheiro

ESPAÇO TOM JOBIM

13h
Mumbi | 7’
Viviane Ferreira (SP)

Renascimento Africano | 53‘
Zózimo Bulbul (RJ)

14h
Milton Meia Dúzia | 12’
Paulinho Sacramento

Wole Soyinka | 52’
Akin Omotoso (África do Sul)

15h
Black in Berlin | 13’
Sabrina Fidalgo

Ramata | 84’
Léandre Alain Backer (Senegal)

13 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR

10h – Seminário JOVENS BRASILEIROS
. Novos Realizadores
. Novas Mídias e Novos Roteiros
. As Mulheres da Nova Geração do Cinema

Viviane Ferreira (SP)
Sabrina Fidalgo (RJ/Berlim)
Luciano Vidigal (RJ)
Jana Guinond – Estimativa (RJ)
Janaina Oliveira (RJ)

14h
Cada fio uma história | 7’
Jana Guinond e Nina Silva (RJ)

O Que Você Tem na Cabeça? | 19‘
Carlos Maia

Na Real | 5’
Luana Paschoa e Amanda Faustino (RJ)

Amanhecer | 15’
Mariana Campos (RJ)

Black in Berlin | 13’
Sabrina Fidalgo

Mumbi | 7’
Viviane Ferreira

15h
Deus lhe pague | 17’
Miriam Juvino (RJ)

O trem do vale | 37’
Sávio Tarso (MG)

Várzea | 39’
Akins Kinte (SP)

17h
Milton Meia Dúzia | 12’
Paulinho Sacramento

Vidigal Cup | 75’
Luciano Vidigal (RJ)

19h
O Papel e o Mar | 15’
Luiz Antonio Pillar

A Metralhadora de Selarón | 18’
Paulinho Sacramento (RJ)

CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL

14h
Chegando Perto de Cheick Anta Diop | 26’
Zózimo Bulbul (RJ)

Wole Soyinka | 52’
Akin Omotoso
Debate com o cineasta

18h30
O Papel e o Mar | 15’

Oficina de roteiro com Antonio Molina
e Antonio Pillar

OI FUTURO em Ipanema

14h
Transport em Commun Saint Louis Blue | 48’
Dyana Gaye

16h
Alfa Blond | 90’
Antoinette Delafin-Cissé (Costa do Marfim)

14 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR

14h
Comportamento Humano | 12’
Flávio Leandro

Luto como Mãe | 70’
Luis Carlos Nascimento (RJ)

16h
Pedra do Sal | 12’
Juliana Chagas

Guerreiro do Samba | 15’
Jocemir Ferreira (RJ)

Chama Imperiana | 19’
Paulinho Sacramento (RJ)

18h
Retrato e branco e preto | 15’
Joel Zito Araújo (RJ)

Noitada de Samba | 75’
Cely Leal

RODA DE SAMBA

CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL

14h
Enchente | 75’
Julio Pecly
Após a sessão debate com o cineasta

OI FUTURO em Ipanema

14h
Milton Meia Dúzia | 12’
Paulinho Sacramento (RJ)

Se todos fossem iguais | 17’
Fernando Barcellos (RJ)

Santas Ervas | 17’
Lincoln Santos

Ilha do rato | 18’
Joselito Crispim (BA)

Mumbi | 7’
Viviane Ferreira (SP)

Rap de Saia | 18’
Janaina Oliveira

Neguinho e kika | 18‘
Luciano Vidigal (RJ)


11 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR


10h - Seminário AS VÁRIAS ÁFRICAS
. 50 anos de independência da Costa do Marfim, Chad e R.D. Congo
. A libertação de Cabo Verde
. Literatura, cinema e a importância dos roteiros

Mesa Redonda:
Sra. Ruth Pinheiro (mediadora)
Idriss Diabate - cineasta, Costa do Marfim
Guenny Pires - cineasta, Cabo Verde
Mahamat Seleh Haroun, cineasta, Chad
Léandre Alain Backer, cineasta, Republica Democratica do Congo


13h
Le Raccourci Vers Le Soleil - 60’
Idriss Diabate (Costa do Marfin)

Wole Soyinka - 52’
Akin Omotoso (África do Sul/Nigéria)

15h30
Pour le meilleur et pour l'oignon - 52’
Sani Elhaj Magor (Nigéria)

Contrato - 77’
Guenny Pires (Cabo Verde)

17h30
Le Monologue de la Muette - 45’
Khady Sylla (Senegal)

Saint Louis Blues (Un Transport en commun) - 48’
Dyana Gaye (Senegal)

19h
Alfa Blond - 90’
Antoinette Delafin-Cissé (Costa do Marfim)

21h
Daratt - 95'
Mahamat–Saleh Haroun (Chade)

Nota: Informação cedida gentilmente por e-mail pela Taís Victa.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

[VIDEO]CORAL CONGOLENSE NA UFRJ

Apresentação do coral de estudantes de intercâmbio do Congo durante a I Semana Literária Estudantil na UFRJ em 2009.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

[EVENTO]SARAU "ÁFRICA: LUSOFONIA EM POESIA"

Sarau África: Lusofonia em poesia

Apresentação: 21/10/2010 - a partir das 19h: 00.
Local - UNESA - Universidade Estácio de Sá - Campus Presidente Vargas, Centro I.
UNESA Presidente Vargas,642(auditório/9º andar)Curso de Letras/Auditório 9º andar.

A apresentação:

Serão declamadas de poesias dos seguintes países africanos: Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
A seleção das poesias que vão do primeiro momento na era colonial aos movimentos de libertação, visam apresentar e convidar o público a conhecer as Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa.

Integrantes:
Conta o projeto em sua maioria de alunos da UNESA, assim como aqueles que também assistem a disciplina na modalidade online e alguns grupos oriundos de outras universidades. Tornando-se um trabalho que vai além dos campis e das relações interuniversitárias.

Apoio e realização:

Coordenação do curso de Letras do Campus Presidente Vargas.
Diretoria de Extensão e Artes UNESA.
Professor responsável pela disciplina na EAD.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

CINE ÁFRICA - A COLONIZAÇÃO E A MORTE DO SER A HITÓRIA DE MISTER JOHNSON: NO CORAÇÃO DA ÁFRICA


Comentaristas:
 Profª Rita de Cássia Barros, Diretora da AFRICA CONSULTING Desenvolvimento Humano e Relações Internacionais, Coordenadora da Pós-Graduação em Estudos Africanos: Desenvlviento Humano e Docência, Doutorado em Ciências Sociais – UNICAMP.
 Sr. Arlindo Kapitango, da República Democrática de Angola, Estudante de Historia pela UNISUAM.
 Coordenação do Evento: AFRICA CONSULTING Desenvolvimento Humano e Relações Internacionais.
 Diretores:
 Professora Rita de Cássia Barros, Doutorado em Ciências Sociais - UNICAMP.
 Professor Sergio Montalvão, Doutorado em Historia, Políticas e Bens Culturais - CPDOC/FGV.

.  ENTRADA GRATUITA.
 Local: FABES/ISEP – Rua Frederico Silva, 86 – Bloco B – 6º Andar – Centro / RJ

 

Data: 19 de outubro de 2010, às 18:30 horas




 Inscrições e Informações:

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

[RESENHA]A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA COR


Lançado recentemente pela Editora Vozes, o livro “A Construção Social da Cor” procura discutir no âmbito da História e das Ciências Sociais algumas das questões mais instigantes e polêmicas de nossa época, como a formação das desigualdades sociais no Brasil, as questões étnicas, a hierarquização e democratização das diferenças, e, sobretudo, a História da formação da sociedade brasileira a partir de uma sociedade que se gestou durante o escravismo colonial. A obra aborda o período que vai desde a formação do Escravismo Colonial até a Abolição da Escravatura, e segue depois analisando alguns dos desdobramentos contemporâneos (período da República) relativos às desigualdades e lutas contra as desigualdades que haviam sido gestadas no período escravocrata. Dentro de um quadro rico de discussões bem fundamentadas em fontes históricas e nos mais recentes debates historiográficos, o livro procura desenvolver de maneira interligada vários assuntos, como a distinção entre a Escravidão Antiga e a Escravidão Moderna, esta já racializada e inserida no tráfico atlântico, e também a descaracterização de identidades ancestrais africanas em favor de uma única Identidade Negra, seja para a montagem do sistema escravocrata, seja no que concerne às posteriores as lutas sociais contra este mesmo sistema. O livro parte de uma distinção conceitual entre “Desigualdade” e “Diferença”, e procura examinar como estas noções podem se interpenetrar para produzir sistemas de dominação. Discute, também, um dos mais polêmicos paradoxos das ciências humanas e das sociedades modernas, o fato de que o conceito de “raça” já não é mais aceito nem pela Biologia nem pela Antropologia, ao lado da concomitante persistência e efetiva efetiva existência do “racismo” nas sociedades contemporâneas.

A obra pode ser adquirida nas livrarias ou pedida através do site da Editora Vozes (http://www.editoravozes.com.br/), ou encomendada à editora pelo e-mail vozes62@uol.com.br

Sobre o autor: José D’Assunção Barros é Historiador e Professor de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, ali desenvolvendo pesquisas sistemáticas na área de História da Cultura. Possui Doutorado em História Social pela Universidade Federal Fluminense. No Ensino de História, tem se especializado tanto nas áreas de Metodologia, Teoria e Historiografia, como na área de História da Arte, escrevendo regularmente livros e artigos relacionados a estes campos. Publicou anteriormente os livros "O Projeto de Pesquisa em História", "Teoria da História", "O Campo da História" e "Cidade e História", todos pela Editora Vozes, sendo que estes dois últimos livros já foram traduzidos no exterior. Participou da organização do livro "Cinema-História", editado pela Editora Apicuri.

domingo, 22 de agosto de 2010

MOSTRA BRASIL AFRO 2010



Difundir a cultura afro brasileira e estimular a livre manifestação artística, estas e outras propostas fazem do V Salão Nacional de Fotografias - "Brasil Afro". Nesta edição os participantes podem apresentar trabalhos que mapeie e mostre a negritude brasileira de diversas formas; dança, retrato, culinária, fotojornalismo, religião, e tudo mais que enriqueça e valorize a cultura afro.

Nesta edição os participantes podem apresentar trabalhos que mapeie e mostre a negritude brasileira em diversas formas: dança, retrato, culinária, fotojornalismo, religião, e tudo mais que enriqueça e valorize a cultura afro.

Os trabalhos devem ser enviados até 03 de outubro de 2010 (valendo o carimbo do correio). Os selecionados receberão certificado de participação, e os melhores farão parte de uma exposição na FUNDEC.

Podem se inscrever com fotografias, coloridas e em preto & branco, que deverão ser enviadas para uma pré-seleção no formato jpeg com qualidade mínima de 800 pixels no lado maior e que não ultrapasse a 50kb para o e-mail: brasilafroselecao@grupoimagem.org.br. Os selecionados serão comunicados por e-mail e terão 15 dias de prazo para enviar as fotos ampliadas no tamanho 30x45cm em papel fosco.

O objetivo é mostrar o trabalho de fotógrafos amadores e profissionais e registrar os costumes e tudo que se refere à cultura afro, bem como os próprios afro-descendentes. Como forma de reconhecimento, a mostra homenageia Jorge Narciso de Mattos pelo seu trabalho e dedicação à causa. As fotografias serão selecionadas por um júri nomeado pela Comissão Organizadora, composto por pessoas reconhecidas no meio fotográfico.

A cada ano que passa cresce o número de participantes, na última edição mais de 200 profissionais de todo o território nacional enviou seus trabalhos.

De acordo com o Presidente do Grupo Imagem, Werinton Kermes, a ação é uma maneira de divulgar novos trabalhos e ao mesmo tempo serve como intercambio cultural. “Nesta mostra fotográfica queremos levar ao público uma parcela significativa da produção fotográfica do país, possibilitando o intercambio entre os fotógrafos dos diversos estados brasileiros, bem como divulgar novos talentos”, definiu Kermes.

O projeto é uma realização do Grupo Imagem Núcleo de Fotografia de Vídeo de Sorocaba, Associação Cultural e Beneficente de Votorantim, Associação Audiovisual de Votorantim Francisco Beranger, Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, CUT Regional de Sorocaba, NUCAB (Núcleo de Cultura - Afro Brasileiro) FUNDEC – Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba, Consciência Negra de Boituva.

Jorge Narciso de Matos

Jorge Narciso de Matos nasceu em 16 de janeiro de 1945 em Pereiras, estado de São Paulo, foi funcionário público federal, agente do INSS. Membro do Clube Recreativo “28 de Setembro”, do NUCAB (Núcleo de Cultura Afro-brasileira, integrado a UNISO), da Academia Sorocabana de Letras, da Fundação Cafuné (que oferece bolsas de estudo a afro-descendentes). Foi presidente do Rotary e seu governador. Professor da UNISO, onde lecionou História da África. Sociólogo. Diretor da Santa Casa de Misericórdia. Faleceu em 30 de outubro de 2003 vitima de um acidente automobilístico.



VIII BRASIL AFRO


REGULAMENTO

O Grupo Imagem Núcleo de Fotografia e Vídeo de Sorocaba, Associação Cultural e Beneficente de Votorantim, Associação Audiovisual de Votorantim Francisco Beranger, Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, CUT Regional de Sorocaba, NUCAB (Núcleo de Cultura - Afro Brasileiro) FUNDEC – Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba, Consciência Negra Boituva.

A Mostra tem por finalidade levar ao público uma parcela significativa da produção fotográfica do país, possibilitando o intercâmbio entre os fotógrafos dos diversos estados brasileiros, bem como divulgar os novos talentos nacionais da área da fotografia.

1) a mostra fotográfica Jorge Narciso de Mattos que tem como tema “Brasil Afro”, onde o objetivo é provocar fotógrafos amadores e profissionais a registrar os abetos, costumes e tudo que se refere à cultura afro, bem como os próprios afros descendentes. Como forma de reconhecimento, a Mostra homenageia Jorge Narciso de Mattos pelo seu trabalho e dedicação a causa;

2) as fotografias, coloridas ou em preto & branco, deverão ser enviadas, para uma pré-seleção em formato jpeg com qualidade mínima de 800 pixels no lado maior e que não ultrapasse a 50kb para o e-mail: brasilafroselecao@grupoimagem.org.br até o dia 03 de outubro de 2010.

As fotos selecionadas serão comunicadas por e-mail aos participantes que terão 15 dias para enviar as ampliações no tamanho 30x45cm em papel fosco.

3) No verso das fotografias deverá constar etiqueta adesiva com o nome completo do fotógrafo, seu endereço, telefone e e-mail para contato, cidade, estado, local em que a foto foi feita e um pequeno texto explicando a foto além do título para ser colocado na exposição;

4) As fotografias serão selecionadas por um júri nomeado pela Comissão Organizadora, composto por pessoas reconhecidas no meio fotográfico. As decisões do júri serão soberanas e finais;

5) Os participantes selecionados para a Mostra Fotográfica Brasil Afro receberão certificado de participação.

6) As fotografias deverão ser enviadas ou entregues diretamente no endereço Rua Júlio Hanser, 140 – 3º andar, Jardim Faculdade, CEP. 18031-490 – Sorocaba – SP. –. de segunda a sexta feira, no horário comercial, até o dia 22 de Outubro de 2010. A inscrição será feita automaticamente mediante o envio das fotografias;

8) As despesas de envio correrão por conta de cada participante;

9) A Comissão Organizadora não se responsabiliza por quaisquer danos que os trabalhos possam sofrer no seu envio; (sugerimos que se coloquem as fotos no envelope juntamente com uma base (papelão) e um aviso escrito no envelope para que o carteiro tome cuidado para não dobrar, pois se trata de obra de arte.

(11) As fotografias selecionadas serão expostas na FUNDEC – Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba.

no período de 18 a 28 de novembro de 2010, bem como exposição virtual nos sítios www.grupoimagem.org.br e www.culturavotorantim.com.br

12) Os autores, ao enviar as fotos para a exposição autoriza a utilização de suas imagens na exposição, divulgação na mídia, catálogos e em todo e qualquer evento ou promoção do Concurso;

13) As fotografias selecionadas poderão integrar o acervo Grupo Imagem, desde que a doação seja explicitamente autorizada na ficha de inscrição (disponível para baixar no site www.grupoimagem.org.br e que elas só serão utilizadas exclusivamente na divulgação de projetos culturais;

15) A organização da Mostra fará uma ampla divulgação com os nomes de todos os participantes, com isto estimulando e valorizando a arte fotográfica.

16) A participação na Mostra Fotográfica Brasil Afro implica na aceitação do presente regulamento;

17- Todos que inscrever sua fotografia para participar deste Concurso assumem particular, pessoal e exclusivamente, toda e qualquer responsabilidade, civil e/ou criminal, relacionada com pessoas, animais e/ou objetos retratados nessa obra, decorrentes da concepção, criação ou divulgação da imagem inscrita, excluindo de tais responsabilidades o Grupo Imagem Núcleo de Fotografia e Vídeo de Sorocaba, Associação Cultural e Beneficente de Votorantim, Associação Audiovisual de Votorantim Francisco Beranger, Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, CUT Regional de Sorocaba, NUCAB (Núcleo de Cultura - Afro Brasileira) FUNDEC – Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba e Consciência Negra Boituva

sábado, 21 de agosto de 2010

I CONGRESSO INTERNACIONAL DE LÍNGUAS E LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILIDADES

A Universidade do Estado da Bahia (UNEB), através do Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias do Campus XXIII, Seabra, promoverá o I Congresso Internacional de Línguas e Literaturas Africanas e Afro-brasilidades (CILLAA) de 21 a 24 de outubro de 2010. O evento reunirá personalidades de reconhecimento internacional, oriundas do Brasil; de países africanos e de outros países nas áreas de línguas e literaturas africanas; de identidades nacionais africanas e afro-brasilidades. Na oportunidade, poderemos ouvir e dialogar com várias vozes autorizadas, inclusive de África, estabelecendo contatos diretos.


O CILLAA tem por objetivo principal contribuir para a formação e aperfeiçoamento de profissionais nas temáticas sugeridas por ele, além de oportunizar o diálogo com estudiosos consagrados e entre estes estudiosos no centro geográfico da Bahia. Acreditamos que este será mais um importante passo dado pela UNEB no sentido da formação de professores e demais interessados em temáticas afro e afro-brasilidades.

Apesar de sermos em nossa maioria profissionais das Letras, as discussões interessam às demais humanidades. Há algum tempo que as Letras realizam interfaces com outras áreas, principalmente das Ciências Humanas, com o CILLAA não ocorrerá diferente. O CILLAA é evento calcado nas Letras, mas em constante e obrigatória comunicação com a cultura.
 
Fonte: http://www.cillaa.uneb.br/

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

MESA-REDONDA COM JOÃO MAIMONA, JOÃO MELO E MARTA SANTOS NA UFRJ

MESA-REDONDA COM POETAS E ESCRITORES DE ANGOLA



JOÃO MAIMONA, JOÃO MELO, MARTA SANTOS(nova escritora de literatura infanto-juvenil)

Dia 19 de agosto (quinta-feira),das 10 horas às 12:30,

UFRJ - Faculdade de Letras- Fundão, sala D220

Fonte: E-mail enviado pelo professor Robson Dutra.

domingo, 15 de agosto de 2010

[Livro]Desmedida - pré-publicação Ruy Duarte de Carvalho

Desmedida - pré-publicação Ruy Duarte de Carvalho

fotografias de Daniela Moreau

…estamos é juntos, no vaivém das balsas…

cendrars

(escrito em São Paulo antes de partir em viagem pelo São Francisco superior)

1 – jantar
complicando logo, que é para depois não causar estranheza: que o real se faz mesmo é de repetições, variações e simetrias, acasos, encontros e convergências que o que estão mesmo a pedir é decifrar-lhes continuidades e contiguidades, isso, estou em crer, não tem quem não saiba. Resultaria pedante e redibitório ousar impor como epígrafe a autoridade de uma qualquer citação capaz de dizer o mesmo. Posta a coisa porém desta maneira, ao que conduz, sem remédio, é a uma formulação banal como esta está a ser…
…a estória então, ou a viagem que tenho para contar, começaria assim:
…tem um lugar, dizia eu, tem um ponto no mapa do Brasil, tem um vértice que é onde os estados de Goiás, de Minas Gerais e da Bahia se encontram, e o Distrito Federal é mesmo ao lado. Aí, sim, gostaria de ir… é lá que se passa muita da ação do Grande sertão: Veredas… e depois descer para o alto São Francisco, que é o resto das desmedidas paisagens de Guimarães Rosa… e ao baixo São Francisco, podendo, ia também… porque encosta aos Sertões euclidianos… sou estrangeiro aqui e nada me impede de incorrer no anacronismo de querer ir ver, de perto, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha…
veredas - minas gerais
veredas - minas geraisEra isto que eu dizia a duas senhoras paulistanas, sentado à mesa delas numa soberba fazenda de café do interior paulista… Dizia sim, e assim, mas quase tudo, já, a pensar noutra coisa… porque daquela exata maneira quase sempre referida para descrever situações semelhantes, talvez porque não há outra, é que fui agarrado por certa ideia e envolvido numa bolha de temporalidade e de velocidade de pensamento dessas que não têm nada a ver com as durações comuns. Durante os escassos segundos em que dizia esse pouco que disse, eu não estava vendo já nem as senhoras que tinha à minha frente e nem a sala muito extensa e iluminada, de pé-direito altíssimo e de um arranjo que restaurava uma construção por certo muito antiga até, mas muito ao gosto da arquitetura e da decoração restauratórias de agora. Pensava noutra sala de jantar, tão extensa e por certo tão antiga como esta, porém numa fazenda então praticamente abandonada pela proprietária, ausente durante mais de duas décadas, na França. Ela estaria sentada agora ali também na companhia de duas filhas suas, nascidas já em Paris, e de alguém verdadeiramente ilustre, Cendrars, Blaise Cendrars, o escritor, o poeta amputado pela Primeira Guerra Mundial e aventureiro, brilhante e de cigarro, sempre, no canto esquerdo da boca, talvez mesmo até enquanto agora ali jantava… e à volta havia mulheres a servi-los, negras e mulatas, algumas nascidas ainda no tempo da escravatura. Porque tudo isso se passava nos anos 20 do século passado, depois de uma viagem transatlântica que tinham feito juntos, com início em Bolonha e apontada ao porto cafeeiro de Santos.
onde a cobra trocou de pele
onde a cobra trocou de peleDe Cendrars sabia eu alguma coisa porque fui lendo dele, ao longo da vida, o que veio ao meu encontro. Moravagine, continuo a achar, é uma leitura fundamental seja para quem for e até aos dias de hoje, e a sua Antologia negra atingiu-me muito antes de eu próprio me ter metido em aventuras semelhantes. E de fazendas de café também tive a minha experiência. Dos 19 aos 25 anos foi nisso que trabalhei por quase todas as regiões cafeeiras de Angola. E tendo querido as circunstâncias que antes de chegar agora ao Brasil — para acabar por ver-me, naquela noite, sentado ali à mesa de duas senhoras, uma mãe e uma filha, na casa -grande de uma próspera fazenda de café em pleno século xxi —, tendo querido as circunstâncias que eu tivesse, também, passado antes por Paris, o que meti então no bolso para ler durante a viagem de avião até São Paulo tinha sido, precisamente, um livrinho de Blaise Cendrars com várias estórias passadas num interior paulista que só podia ser aquele.
rio s.francisco - minas gerais
rio s.francisco - minas gerais
travessias - minas gerais
travessias - minas geraisCendrars, no tempo dele, tinha vindo ao Brasil numa altura em que brilhava já há mais de dez anos como figura das mais marcantes na vanguarda literária e artística de Paris, depois de ter publicado Les Pâques à New York e Prose du Transiberien et de la petite Jehanne de France, de quem Rilke viria a dizer tratar-se da genial poesia de um cantor de ruas. Esses poemas deram a volta à poesia escrita em francês e mudaram até o rumo do que fazia o próprio Apollinaire, consta. Revelavam um arrojo na desmedida de que não haveria notícia desde Rabelais, dizem os especialistas. Mais recentemente tinha Cendrars publicado Panamá ou l’aventure de mes sept oncles e a tal Anthologie nègre, êxitos seguros do público e da crítica.
Foi então que, na Livraria Americana do Quai des Grands-Augustins, Cendrars deu encontro com o intelectual brasileiro Paulo Prado, figura proeminente da sociedade paulista, membro no ativo de uma das famílias mais poderosas do Brasil, bem-sucedido produtor e exportador de café, mecenas sempre pronto a socorrer artistas que reconhecia capazes, como Heitor Villa-Lobos, por exemplo. Paulo Prado tinha mesmo participado, financiando até, naquele movimento que durante três noites de fevereiro de 1922 promoveu a famosa e importante Semana de Arte Moderna de São Paulo.
Ora encontravam-se também em Paris, na altura do encontro de Cendrars com Paulo Prado, muitos dos protagonistas desse movimento: Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Sérgio Milliet, Di Cavalcanti. Data mesmo daí a apresentação de Tarsila a Fernand Léger, encontro que viria a ter uma grande importância na obra da pintora brasileira.
Barra do Rio Grande - BahiaBarra do Rio Grande - Bahia
Cendrars e Léger andavam então implicados numa aventura que envolvia também, tudo em Paris, Darius Milhaud, Jean Cocteau e os balés suecos. O compositor Darius Milhaud tinha servido como adido cultural na Legação Francesa do Rio de Janeiro em 1917 e 1918, durante o consulado de Paul Claudel — que aliás, naturalmente, também privou com Paulo Prado —, e foi aí que conheceu não só o músico Heitor Villa -Lobos como também um certo Zé Boiadeiro, autor de sambas, chorinhos, tanguinhos e maxixes, entre os quais uma peça chamada Boi no telhado. Voltou à França com materiais e ideias que lhe permitiram agitar o meio parisiense com o seu Boeuf sur le toit. Depois disso é que procurou Cendrars, quando também apareceu a Anthologie nègre, para montar com ele, e com Léger, La création du monde, balé de tema negro levado à cena em outubro de 1923. Terá sido mesmo Darius Milhaud, dizem, a contribuir para que Cendrars aceitasse sem qualquer hesitação o convite que Paulo Prado lhe fez, a instâncias de Oswald de Andrade, parece, para vir ver como era o Brasil.
Cendrars permaneceu então aqui durante alguns meses, no ano de 1924. Fez conferências em São Paulo e andou com Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral pelas cidades do ouro de Minas Gerais durante a Semana Santa. Haveria de voltar pelo menos mais duas vezes ao Brasil, em 26 e em 27-28, para passar, sempre que podia, os carnavais no Rio. Comprando fumo de rolo em Cordisburgo Comprando fumo de rolo em Cordisburgo Apaixonou-se por este país a ponto de proclamar, sempre que podia, que esta era a sua Utopiolândia, a sua segunda pátria espiritual — já que a primeira não poderia, evidentemente, deixar de ser Paris. Nos seus poemas, ficções, ensaios, memórias, reportagens, daí para a frente não deixou nunca de celebrar e de glorificar, e durante mais de cinquenta anos, a sua terra de eleição. E tanto a sua vida como a sua obra acabaram por mudar de rumo, depois de ter aqui estado. Chegou como aspirante a cineasta derrotado e deprimido, voltou meses depois à França para escrever, em poucas semanas, L’or, um romance, gênero que nunca tinha praticado e lhe garantiu de imediato um novo e retumbante sucesso. E como resistir a mencionar que foi a partir das suas estadias no Brasil, e a pedido de Paulo Prado, que Cendrars veio a assinar uma tradução que para alguns é uma versão para melhor de A selva de Ferreira de Castro (ao que parece traduzida de fato por um certo Jean Coudures e apenas revista, mas magistralmente, por ele), e que nesse livro é que viria a apoiar-se, também consta, para escrever o seu futuro En Transatlantique dans la Forêt Vierge?
travessias - minas geraistravessias - minas gerais“No Brasil foi grande a sua influência sobre os rapazes que em 22 desencadearam o movimento modernista”, viria a dizer mais tarde Manuel Bandeira. Ele vinha a calhar, referem outros, para tornar-se o avalista estrangeiro do arranque modernista. O movimento Pau-brasil, de Tarsila e de Oswald, terá mesmo nascido e achado o seu tom na companhia de Cendrars, e as suas imagens e obra convinham em absoluto a essa campanha brasileira contra o pieguismo romântico e a “crueza de açougue” do realismo, acrescentam ainda alguns. Tratava-se de cantar, a par de uma brasilidade ainda muito em busca de si mesma, o fluxo da vida moderna, a importância do tempo material, o motor, o asfalto, o cinema, a eletricidade, a iluminação, as engrenagens fabris e a velocidade…
Barra do Rio Grande - BahiaBarra do Rio Grande - Bahia
***
Estou a escrever, agora, alguns meses depois de Cendrars me ter vindo à cabeça enquanto jantava com aquelas senhoras numa fazenda do interior paulista. É evidente que andei entretanto a informar-me sobre Cendrars no Brasil. Naquele momento talvez soubesse só, ou sobretudo me ocorresse apenas de imediato — porque alguma coisa vem dita na introdução do D’oultremer à indigo que trazia na algibeira —, que Cendrars, no Brasil, tinha estado em fazendas de café e que era aí que situava uma boa parte daquilo que o Brasil o levaria a escrever depois.
o recife visto de olindao recife visto de olindaEsteve algumas vezes em propriedades de café da família Prado, nomeadamente nas fazendas São Martinho e Santa Veridiana, e foi aí que utilizou a seu bel-prazer o Marmon, viatura de luxo, que entra na tal estória das senhoras, e um pequeno Ford que Paulo Prado colocava à sua inteira disposição (Cendrars era um apaixonado por viaturas automóveis e num período mais ou menos próspero da sua vida chegou mesmo a ter um Alfa Romeo de desporto com a cabine desenhada por Georges Braque). Mas esteve também, e nunca deixou de referir isso como uma das glórias da sua vida, numa outra fazenda de café à medida exata do seu desvario imaginativo. Aí teria dormido, em 1886, o imperador d.Pedro ii, e imperava nela agora, ou veio a imperar na ficção de Blaise Cendrars, um mais que mítico fazendeiro astrônomo, obstinada e definitivamente apaixonado por uma distante, quiçá jamais divisada, Sarah Bernhardt, a divina.
serra das ararasserra das araras

Cendrars situa essa estória, a das senhoras vindas com ele de Paris, numa fazenda então ensombrada por passados obscuros, e roída por desgostos fundos, a desdobrar-se por dezenas de milhares de hectares de cafeeiros sem seiva, sufocados pelo cupim, arbustos, ervas daninhas e trepadeiras, e queimados pela geada dos nevoeiros que a madrugada congelava, vindos de um lago ao lado, olho de sáurio, na estória de Cendrars, injetado e feroz, onde tudo quanto caía, até as nuvens do céu e a paisagem invertida — e o próprio coração do narrador, doente de amores sem esperança por uma das senhoras mais novas, dona Maria —, era para aí apodrecer e servir de festim a jacarés…
sertãosertãoNão era o caso desta fazenda onde eu agora me achava e me deixava alhear assim, possuído pelas minhas divagações, fulminantes, rápidas, ao ritmo desse tempo alterado que é o do desenrolar de certas percepções, e de que aliás me iria em breve ver recuperado pela conversa efetiva. Esta fazenda, onde eu agora estava, produz muito, e um muito valorizado café, servido como privilégio nos melhores restaurantes de São Paulo… Esta será antes uma fazenda como a do morro Azul, onde Cendrars situou o seu fazendeiro sideral, milhões e milhões de pequenos arbustos uniformemente verdes, do mesmo tamanho e idade, alinhados a perder de vista, cada planta tratada, cuidada, abrigada, numerada… Para que procurar dizer o mesmo de outra maneira se dito assim, como Cendrars falou há mais de oitenta anos, soa tão bem?…
…tem um lugar, dizia eu então, tem um ponto no mapa do Brasil, tem um vértice que é onde os estados de Goiás, de Minas Gerais e da Bahia se juntam, e o Distrito Federal é mesmo ao lado, aí sim, gostaria de ir… é lá que se passa muita da ação do Grande sertão: Veredas… e depois descer daí para o alto São Francisco, que é o resto das paisagens de Guimarães Rosa… e ao baixo São Francisco, podendo, eu ia também… porque encosta aos Sertões euclidianos… sou estrangeiro aqui, nada me impede de incorrer no anacronismo de querer ir ver, de perto, Guimarães Rosa e Euclides…

— E ao médio São Francisco, não? Richard Burton também andou por lá… — pergunta-me uma das senhoras, a mãe, e suspende-se a olhar-me nos olhos.
— Richard Burton?… Sir Richard Burton, I presume — respondo eu suspendendo, pela minha parte, o manuseio dos talheres —, o próprio sir Richard Burton, sim, o da descoberta das nascentes do Nilo, o da viagem clandestina a Meca, tradutor das Mil e uma noites e dos Lusíadas, of course… andou pela Índia, por Goa, Costa do Malabar, pela Pérsia, Egito, Harrar, Crimeia, Zanzibar, África central, Fernando Pó, Camarões, Congo, Daomé, pradaria norte-americana, Salt Lake City, Paraguai, Síria, Trieste… aventureiro e homem de letras, soldado, espião e diplomata… que escreveu dúzias de crônicas de viagem e dezenas de livros, que foi etnólogo, conferencista e tradutor, fluente em 29 línguas. E que praticava, para além disso, hipnotismo e poesia, entre outras coisas…
Forte Orange Ilha de Itamaraca - Pernambuco
Forte Orange Ilha de Itamaraca - Pernambuco
A senhora suspende a suspensão e olha para a filha… Não confundi com o ator… Passei na primeira prova…: — Pois também esse desceu o rio das Velhas, de Sabará a Pirapora, e o São Francisco daí até à foz… E tudo quanto escreveu, dessa viagem, é sempre a dizer mal até que na Barra do Rio Grande, já muito adiantado no estado da Bahia, entre a antiga cachoeira do Bom Jardim e Xique-Xique, encontrou um parente nosso que lhe mostrou a sua coleção de pedras…
— Mãe, conta para ele também como foi daí, da Barra do Rio Grande, e da família, que saiu mais tarde, para o recôncavo baiano, uma menina que veio a casar depois com aquele juiz de direito que acolheu o Antônio Conselheiro em Juazeiro — interrompeu nessa altura a senhora mais nova que era filha, ali…
ruy, represa das três marias
ruy, represa das três marias
Desmedida luanda — são paulo — são francisco e volta, de Ruy Duarte de Carvalho - a sair em breve pela Língua Geral, Brasil (e Cotovia, portugal, 2006 )
Fonte: http://www.buala.org

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

[Luto]Morreu o escritor Ruy Duarte Carvalho

Morreu o escritor Ruy Duarte Carvalho Imprimir E-mail

ImageO escritor, poeta, cineasta, artista plástico, e antropólogo Ruy Duarte Carvalho morreu na sua casa na cidade de Swakopmund, na Namíbia, aos 69 anos, disse esta quinta-feira à Lusa a escritora angolana Ana Paula Tavares.
Português, e naturalizado angolano na década de 1980, Ruy Duarte de Carvalho foi um autor multifacetado, cuja obra se estende das artes plásticas ao cinema, passando pela antropologia e também pela poesia.
Costumava descrever a sua obra como “meia-ficção-erudito-poético-viajeira”.
Nascido em Santarém em 1941, passou parte da infância e adolescência em Moçâmedes, na província de Namibe, mas regressou à terra natal para frequentar o curso de regente agrícola, que concluiu em 1960.
Retornado a Angola, aí exerceu a profissão, percorrendo as grandes regiões angolanas em que se encontram implantadas áreas da agricultura de rendimento, trabalhando no sector da cafeicultura e conhecendo igualmente as práticas agro-pastoris tradicionais, também chamadas de subsistência.
Em 1967, passou a ocupar-se da criação de ovinos caraculo no sul de Angola e quatro anos depois abandonou esta actividade, fixando-se temporariamente em Maputo e Londres.
Na capital britânica, fez um curso de realização de cinema e televisão e em 1974 regressou uma vez mais a Angola.  Mais tarde, entrou para o quadro da Televisão Popular de Angola, onde exerceu as funções de realizador de cinema.
Tornou-se cidadão angolano em 1983 e três anos depois doutorou-se em Antropologia, na École des Hautes Études de Sciences Sociales, de Paris. Lecionou nas universidades de Luanda, Coimbra e São Paulo.

Publicou, entre outras obras, «Vou lá visitar pastores» (1999), sobre os Kuvale, sociedade pastoril do sudoeste de Angola – adaptado ao teatro pelo ator e encenador Manuel Wiborg e estreado na Culturgest, em Lisboa – e “Actas da Maianga – Dizer da(s) guerra(s) em Angola” (2003).

Na poesia, editou «Chão de Oferta (1972)», «A Decisão da Idade» (1976), «Observação Directa» (2000) e “Lavra”, em que reuniu poemas escritos entre 1970 e 2000.

Na ficção, é autor de “Os Papéis do Inglês” (2000), “Como se o Mundo não tivesse Leste” (1977), “Paisagens Propícias” (2005) e «Desmedida» (2006), que lhe valeu o Prémio Literário Casino da Póvoa 2008, entregue no âmbito do encontro de escritores de língua portuguesa e espanhola Correntes d’Escritas.

Depois de estudar cinema, gravou numerosas horas de cinema direto, filmando as populações do sul de Angola e realizou as longas-metragens “Nelisita: narrativas nyaneka” (1982) e “Moía: o recado das ilhas” (1989).

Em 2008, o Centro Cultural de Belém realizou um ciclo sobre a sua vida e obra, o primeiro que dedicou a um autor de língua portuguesa.

Depois de se aposentar, em 2008, passou a residir na segunda maior cidade da Namíbia, Swakopmund, e foi em casa que foi  encontrado esta quinta-feira sem vida.

Fonte: http://www.angoladigital.net/artecultura/index.php?option=com_content&task=view&id=1517&Itemid=39

Texto autobiográfico escrito para o Aeiou Visão  em 2005

Ruy Duarte de Carvalho
Se a habilidade autobiográfica que me é pedida visa situar aquilo que tenho escrito no espaço ultramarino português de ontem e lusófono de hoje, então o que me está a ser sugerido, de facto, é que entre no jogo e aceite essa colocação como eixo do que possa vir a ter para dizer. Assim : Em meados dos anos 50 do século passado desembarquei em Lisboa com uma bicicleta e uma caixa de tintas a óleo na bagagem. Eram preciosas prendas de que tinha conseguido não me separar, uma de aniversário e outra por ter feito o 2º ano do liceu, quando por decisão familiar fui remetido de Moçâmedes para fazer em Portugal, Santarém, num prazo de cinco anos, o curso de regente agrícola. Mas nem da bicicleta nem das tintas a óleo nunca mais voltei a fazer uso. Passei esses cinco anos na condição de aluno interno, a residir no próprio estabelecimento escolar, e tanto as tintas a óleo, que eram o reconhecimento dos meus mais evidentes talentos congénitos, como a bicicleta, que era uma adjectivação de gloriosas adolescências coloniais, foram sacrificadas à disciplina e ao programa da minha estadia em Portugal.Não estou, porém, é claro, a contar a estória pelo princípio. Quando de facto fui embarcado em Moçâmedes, eu estava também a ser remetido ao exacto local do meu nascimento biológico e de onde, mais cedo portanto, tinha vindo com a família, que entretanto emigrava, parar a Moçâmedes. O que me calhou assim na vida, de qualquer maneira, foi estar de volta a Angola com um curso médio já feito quando a maioria dos sujeitos angolanos da minha classe etária com recursos para estudar estava a ser, por sua vez, expedida para faculdades em Portugal e a ver-se colocada nos terrenos de uma placa giratória, dados os tempos que então corriam, capaz de os envolver em oportunas dinâmicas de esclarecimento ideológico, aprendizagem política, encaminhamento militante e eufóricas, redentoras e patrióticas opções juvenis de rumo para a vida.Pelo menos duas consequências maiores para o meu percurso biográfico terão resultado desta configuração das coisas: a primeira é que o lugar onde vim ao mundo sempre constituiu para mim, desde que me lembro a ruminar nas coisas, uma referência de exílio; a segunda é que tudo quanto pela vida fora se me foi revelando e determinando lugar no mundo, sempre acabou por ocorrer de maneira imediata, vivida, empírica, in vivo, a exigir, às vezes, e sem ser pela mão fosse do que ou de quem quer que fosse, opções e acções de vida ou de morte no pleno desenrolar dos acontecimentos. Elaborações e ruminações, teoria ajudando, foi quase sempre só depois.Não me lembro de ter vindo ao mundo, evidentemente, mas em compensação lembro-me muito bem de ter mudado inteiramente, tanto de alma como de pele, uma meia dúzia de vezes ao longo da vida. De que havia uma matriz geográfica e de enquadramento existencial que essa é que era a minha, dei conta aí pelos 12 anos a comer pão e com um ataque de soluços no meio do deserto de Moçâmedes, por alturas do Pico do Azevedo. Isso continua a vir-me sempre à ideia de cada vez que ainda por lá passo e se calhar é para isso mesmo que ando sempre a ver se passo por lá. E de que havia uma razão de Angola que colidia com a razão colonial portuguesa, disso dei definitivamente conta em condições muito brutais, com 19 anos e já a trabalhar como técnico responsável nas matas do Uíge, quando, em Março de 1961, eclodiu ali a sublevação nacionalista do norte.Sobrevivi à justa e a tempo de me refazer de tanta perplexidade e do quadro de horror geral em que me tinha visto envolvido, fruto quer da feroz insurgência quer da perversa e ainda mais feroz repressão à insurgência, quando a seguir, numa noite em Luanda, a atravessar as ruas da Baixa, houve quem me desse a saber, pela via de uns versos, de uma alma de Angola que vinha pronta sob medida para eu ajustar à razão de Angola que o pesadelo do Norte tinha acabado de me dar a entender. E a partir daí passei a invocar esse novo nascimento para ver se conseguia forjar algum sentido para a condição de órfão do império a que a vida, apercebi-me logo, me iria destinar.O máximo que então consegui, para actuar do lado em que passei desde então e até hoje a situar-me, foi que alguns mais-velhos da luta clandestina, durante uns tempos em que habitei Luanda, me atribuíssem mínimas tarefas menores, como dactilografar, para distribuição nos muceques, poemas de revolta de autoria anónima e de esclarecedora má qualidade, também. Mas depois foi uma data de gente presa e quando o instituto do café me colocou, a seguir, primeiro na Gabela e mais tarde em Calulo, perdi e nunca mais consegui restabelecer ligações políticas efectivas com a insurgência nacionalista. O máximo, outra vez, que consegui então, foi ser dado como persona non grata pela administração do Libolo e afastado dali junto com um padre basco e um médico português. Pouco para currículo político.Arranjei então outro emprego e mudei para a Catumbela, para dirigir a pecuária de uma grande empresa açucareira. E foi nessa condição que levei tal volta passados três anos de mim para mim e afundado a criar ovelhas no interior do imenso platô de Benguela, levei então tamanha volta que andei os três anos seguintes a derivar pelo mundo. Estive em Hamburgo, em Copenhaga e em Bruxelas sempre a ver se encontrava traços da insurgência nacionalista, mas quando finalmente consegui chegar a Argel para colocar-me à disposição da luta, ninguém ali me levou a sério, ou então desconfiaram, ou então voluntaristas como eu já lá tinham que chegasse e até nem sabiam o que é que lhes haviam de fazer. Foi depois de ver-me assim perante a evidência de que por ali também não ia dar, e de ter levado as coisas até onde podia, que acabei por encontrar-me um dia, no turbilhão da voragem de tanta viagem, a exercer funções de chefe de fabricação de cerveja em Lourenço Marques Maputo, e estive a seguir em Londres, com um dinheiro que pedi emprestado, a fazer um curso de realização de cinema e de televisão. Na sequência dessa volta toda é que acabei por passar a noite de 10 para 11 de Novembro de 1975 no município do Prenda, às zero horas, que foi uma hora zero, a filmar a bandeira portuguesa a ser arreada e a de Angola a subir ao mesmo tempo.Já nessa altura, quando foi da independência, tinha o primeiro livro de poesia publicado. Depois, de 75 até 81, fiz filmes para a televisão angolana e para o Instituto Angolano de Cinema, e andei durante uns tempos muito entretido a filmar por Angola toda e a pensar que seria bem acolhida essa minha peregrina intenção de dar Angola a conhecer aos próprios angolanos, meus compatriotas. Quando vi que afinal não dava mesmo para continuar a querer fazer cinema, nem aquele que eu queria nem aliás qualquer outro, escrevi um texto académico para juntar a um dos filmes que tinha feito no Sul e obtive com isso o diploma da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris, que me deu imediato acesso à condição de doutorando. Foi então o tempo da Samba e dos Axiluanda, de um fora de Luanda dentro de Luanda, e das teses. A partir de 87 passei a dar umas discretas e mal pagas aulas de Antropologia Social em Luanda e fui aproveitando sabáticas para aceitar convites e ir dar aulas também e consumir bibliotecas em Paris, Bordéus, São Paulo e Coimbra. E a partir de 92 arranjei maneira de ir estar, todos os anos, cinco meses com os pastores do Namibe. Decidi então passar a disponibilizar essa informação sem ter de escrever naquele tom da escrita académica ou de relatório, porque disso já tinha tido a minha dose. E foi assim que adoptei a maneira do Vou lá visitar pastores que depois me pôs na pista de uma meia-ficção em que venho insistindo nos últimos anos. E fui também deixando cada vez mais de escrever poemas tal e qual.Hoje continuo a não conseguir andar muito tempo por fora sem devolver-me ao murmúrio de Luanda à noite que sobe das traseiras da minha casa na Maianga, e sem continuar a dar de vez em quando um salto ao Sul, para visitar pastores. E julgo, chegado a esta altura da vida, não poder deixar de ter que entender que o mundo, por toda a parte e não só aqui, se urde e se produz recorrendo sempre, ou quase sempre, ao uso e ao abuso da boa-fé dos outros. Temo não conseguir nunca chegar, mesmo velhinho, a conformar-me com isso e a tornar-me no sujeito bem acabado, dissimulado, pirata, adaptável e finalmente adaptado que nunca, durante toda a vida, consegui ser. Mas acho que também aprendi, entretanto, a rir-me de mim mesmo, das minhas incompetências congénitas e do mau-feitio que neste mundo sou evidentemente o único a ter. E tem uns intervalos em que tudo parece ficar virginalmente vivável, bom e bonito, conforme pensa a onça quando, segundo Guimarães Rosa, não teme nada e vai, guiada só pela alma que tem.
Fonte: http://aeiou.visao.pt/morreu-ruy-duarte-de-carvalho=f569029

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O vão da voz: a metamorfose do narrador na ficção moçambicana


Em O Vão da voz, Terezinha Taborda revisita o entrecruzamento de voz e de letra. Para tanto, elege, como via metodológica, a “metamorfose do narrador na ficção moçambicana”. Suas reflexões ecoam vozes críticas como as de Alassane Ndaw, Georges Ngal, Lourenço Rosário, Makhily Gassama e vários outros que, encantados com a cópula da voz com a letra, buscaram a força alquímica da transformação da memória do passado no ouro narrativo do presente.
Livro de Terezinha Taborda Moreira
Editora: PUC-Minas
ENCADERNAÇÃO: Brochura  | 252 págs. 
ANO EDIÇÃO: 2005

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A Formação do Romance Angolano, de Rita Chaves

A Formação do Romance Angolano:
Entre Intenções e Gestos, de Rita Chaves




Resenha por André Luís da Silva Sampaio - Mestrando em Letras – Universidade Federal Fluminense - Brasil
E-mail: andresampaio2000@yahoo.com.br


Rita Chaves, professora doutora do departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Uiniversidade de São Paulo, publicou pela área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa a obra "A Formação do Romance Angolano: Entre Intenções e Gestos". neste livro, que foi sua teses de douturado defendida em 1993, Rita, pioneira neste estudo, analisa a obra de quatro dos grandes autores angolanos: Assis Jr, Castro Soromenho, Oscar Ribas e José Luandino Vieira. Rita Chaves não elegeu esses autores ao acaso, pois eles foram os responsáveis pela iserção do gênero na literatura angolana.

A literatura como já se sabe, possui um papel singular na busca da identidade nacional, foi através dela e da arte em geral, que o Brasil conquistou essa noção de nacionalidade; e em Angola também ocorreu o mesmo processo. A literatura, principiada pela impresnsa levou Angola à independência tomados pelo exemplo do Brasil, angolanos encontraram na literatura a arma necessária para garantir sua libertação do domínio português.

O Livro divide-se em nove partes, contanto com o prefácil do escritor Pepetela, expoente da literatura africana de língua portuguesa. Logo em seguida, Rita traz uma introdução abordando o trajeto dos escritores no ato de escrever e da luta pela independência através da literatura. Traz também na introdução, o difícil cenário encontrado em Angola tendo sua identidade dividida e transformada pela colônia portuguesa.

Ainda na introdução, Rita como na obra inteira, elucida a importãncia da tradição oral na preservação da memória e da tradição:

"Como em tantos outros lugares as "estórias" contadas pelos mais velhos, conforme declara Manoel Rui, cumpriam o papel de transmitir a sabedoria e humanizar o reino das relações que os outros elementos completavam. (CHAVES, 1993, p.20)



Em contra partida, Rita apresenta o papel que a escrita teve na organização social em Angola depois do atirar dos canhões e completa dizendo:


Trazida com os tiros, a escrita corresponde a uma espécie de ruptura que será convertida em nova forma de sentir e dizer. Transformando-se em maneira de  presentificar experiências e organizar o real, a palavra vai sendo trabalhada no sentido de preencher o vazio entre o homem e o mundo, agora redimensionado, nessa nova etapa do chamado processo civilizatório. Violenta e irreversível, a quebra se deu; mais tarde, caberia à literatura ali produzida a tarefa de rejuntar pedaços para a composição de uma nova ordem. - (CHAVES, 1999,p.20)



No capítulo seguinte, intitulado Literatura e nacionalidade no Contexto colonial, depara-nos com o processo pelo qual o homem angolano foi submetido a passar e dele encontrar saidas para combater o inimigo próximo na busca do seu lugar, primeiramente como ser humano e em seguida como um homem que possui nação e identidade própria. E assim, a autora parte para o capítulo seguinte, Assis Jr.: A opção pelo Gênero, iniciando sua análise principal, que é a de encontrar através da obra dos autores escolhidos, o nascer da indentidade nacional angolana após o dominio português.

Os capítulos seguintes, Castro Soromenho: a matriz Neo-Realista, Oscar Ribas: Tradição e Pudor na busca da identidade Nacional e José Luandino Vieira: O Verbo em Liberdade, Rita parte para a análise profunda da obra desses autores e enfatiza cada traço marcante e cada papel que cada um obteve na formação do romance angolano e na formação da tão sonhada identidade, verdadeiramente angolana. Depois da leitura de dez obras escritas pelo autores acima citados, o último capítulo, a conclusoa, finaliza a obra "A Formação do Romance Angolano". Na conclusão Rita enfatiza o poder da tradição oral, que garantiu o recontar das estórias guardadas pelos mais velhos e retomadas pelos escritores. Em um outro molde, o romance, que nasce em Angola para garantir de certa forma, a memória de seu povo, qeu durante muito tempo correu o risco de desaparecer. Mas que pela astúcia e coragem dos escritores permanece viva palara Angola e para o resto do Mundo, inclusive Portugal.

O trecho a seguir, do prefácil escrito por Pepetela, traduz o sentido de toda a obra, abordando a realidade vivida pelos autores e transportadas para seus livros:


"castro Soromenho tratou decididamente situações não só rurais mas também de zonas muito afastadas dos principais centros urbanos da costa. Assis Junior é ainda em certa medida um homem do século passado, enquanto Luandino Vieira é produto da Segunda Guerra Mundial. Oscar Ribas tem posições políticas menos evidentes que os outros. Diferenças, diferenças... E no entanto há uma mesma alma a vibrar, há esperanças soltas no ar, apregoadas na obra de uns, apenas murmuradas na de outros. Mas em todas elas podemos ler uma nação a despontar.(Pepetela apud CHAVES, 1999, p.15.)

Segundo, ainda Pepetela, Rita Chaves ao "tratar da formação do romance angolano a partir de quatro escritores de origens e vivencias muito diferentes", acabou por ligar "estreitamente essa gêneses à do nacionalismo"(Pepetela apud CHAVES,1993, p.14.) De fato, Rita através de sua análise traz a tona o verdadeiro desejo dos autores, denunciar a condição de colonizados no sentiro de obter a libertação, desejada desde o século XIX.


A obra é riquíssima em vários aspectos, desde de sua apurada escrita até o seu relevante tema, que envolve a cada capítulo lido. Rita Chaves possui um olhar crítico e dinâmico do processo ocorrido em Angola e por isso fala com propriedade de cada fato importante na obtenção da liberdade e na reconstrução da nação angolana.

Rita Chaves traz de volta a importância dos estudos da oralidade, que na atualidade ganham um novo espaço dentro dos centros acadêmicos de todo mundo. Pelo fato de ser pioneira no Brasil na área, e por ter defendido sua tese em 1993, Rita não citou autores de extrema importância, como Paul Zumthor que trata do tema oralidade na obra a Letra e a Voz (Companhia das Letras, 1987) e Hommi Bhabha e Stuart Hall que lidam diretamente com os aspectos culturais como a diáspora, efeitos da colonização e da sobrevivência das minorias, de certo, pelo fato de serem teóricos modernos. Se a obra de Rita Chaves ganhasse uma nova ed ição seria de extrema
valia a inserção dos conceitos dos teóricos mencionados. Porém, A Formação do Romance Angolano: Entre intenções e Gestos , não deixa de ter uma grande importância no estudo literário e histórico, já que através de sua leitura o Brasil pode conhecer um pouco mais da arte dos nossos nobres vizinhos africanos, que se comunicam com a mesma língua, a portuguesa, e possuem a mesma condição: a de um país que busca a sua própria identidade.


CHAVES, Rita. A Formação do Romance Angolano: Entre Intenções e Gestos.
Coleção Via Atlântica, n° 1. São Paulo, 1999

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Os Sete Sapatos Sujos - Por Mia Couto

OS SETE SAPATOS SUJOS - Mia Couto

Começo pela confissão de um sentimento conflituoso: é um prazer e uma honra ter recebido este convite e estar aqui convosco. Mas, ao mesmo tempo, não sei lidar com este nome pomposo: “oração de sapiência”. De propósito, escolhi um tema sobre o qual tenho apenas algumas, mal contidas, ignorâncias. Todos os dias somos confrontados com o apelo exaltante de combater a pobreza. E todos nós, de modo generoso e patriótico, queremos participar nessa batalha. Existem, no entanto, várias formas de pobreza. E há, entre todas, uma que escapa às estatísticas e aos indicadores numéricos: é a penúria da nossa reflexão sobre nós mesmos. Falo da dificuldade de nós pensarmos como sujeitos históricos, como lugar de partida e como destino de um sonho.



Falarei aqui na minha qualidade de escritor tendo escolhido um terreno que é a nossa interioridade, um território em que somos todos amadores. Neste domínio ninguém tem licenciatura, nem pode ter a ousadia de proferir orações de “sapiência”. O único segredo, a única sabedoria é sermos verdadeiros, não termos medo de partilhar publicamente as nossas fragilidades. É isso que venho fazer, partilhar convosco algumas das minhas dúvidas, das minhas solitárias cogitações.



Começo por um fait-divers. Há agora um anúncio nas nossas estações de rádio em que alguém pergunta à vizinha: diga-me minha senhora, o que é que se passa em sua casa, o seu filho é chefe de turma, as suas filhas casaram muito bem, o seu marido foi nomeado director, diga-me, querida vizinha, qual é o segredo? E a senhora responde: é que lá em casa nós comemos arroz marca…(não digo a marca porque não me pagaram este momento publicitário).



Seria bom que assim que fosse, que a nossa vida mudasse só por consumirmos um produto alimentar. Já estou a ver o nosso Magnifico Reitor a distribuir o mágico arroz e a abrirem-se no ISCTEM as portas para o sucesso e para a felicidade. Mas ser- se feliz é, infelizmente, muito mais trabalhoso.



No dia em que eu fiz 11 anos de idade, a 5 de Julho de 1966, o Presidente Kenneth Kaunda veio aos microfones da Rádio de Lusaka para anunciar que um dos grandes pilares da felicidade do seu povo tinha sido construído. Não falava de nenhuma marca de arroz. Ele agradecia ao povo da Zâmbia pelo seu envolvimento na criação da primeira universidade no país. Uns meses antes, Kaunda tinha lançado um apelo para que cada zambiano contribuísse para construir a Universidade. A resposta foi comovente: dezenas de milhares de pessoas corresponderam ao apelo. Camponeses deram milho, pescadores ofertaram pescado, funcionários deram dinheiro. Um país de gente analfabeta juntou-se para criar aquilo que imaginavam ser uma página nova na sua história. A mensagem dos camponeses na inauguração da Universidade dizia: nós demos porque acreditamos que, fazendo isto, os nossos netos deixarão de passar fome.



Quarenta anos depois, os netos dos camponeses zambianos continuam sofrendo de fome. Na realidade, os zambianos vivem hoje pior do que viviam naquela altura. Na década de 60, a Zâmbia beneficiava de um Produto Nacional Bruto comparável aos de Singapura e da Malásia. Hoje, nem de perto nem de longe, se pode comparar o nosso vizinho com aqueles dois países da Ásia.



Algumas nações africanas podem justificar a permanência da miséria porque sofreram guerras. Mas a Zâmbia nunca teve guerra. Alguns países podem argumentar que não possuem recursos. Todavia, a Zâmbia é uma nação com poderosos recursos minerais. De quem é a culpa deste frustrar de expectativas? Quem falhou? Foi a Universidade? Foi a sociedade? Foi o mundo inteiro que falhou? E porque razão Singapura e Malásia progrediram e a Zâmbia regrediu?



Falei da Zâmbia como um país africano ao acaso. Infelizmente, não faltariam outros exemplos. O nosso continente está repleto de casos idênticos, de marchas falhadas, esperanças frustradas. Generalizou-se entre nós a descrença na possibilidade de mudarmos os destinos do nosso continente. Vale a pena perguntarmo-nos: o que está acontecer? O que é preciso mudar dentro e fora de África?



Estas perguntas são sérias. Não podemos iludir as respostas, nem continuar a atirar poeira para ocultar responsabilidades. Não podemos aceitar que elas sejam apenas preocupação dos governos.



Felizmente, estamos vivendo em Moçambique uma situação particular, com diferenças bem sensíveis. Temos que reconhecer e ter orgulho que o nosso percurso foi bem distinto. Acabamos recentemente de presenciar uma dessas diferenças. Desde 1957, apenas seis entre 153 chefes de estado africanos renunciaram voluntariamente ao poder. Joaquim Chissano é o sétimo desses presidentes. Parece um detalhe mas é bem indicativo que o processo moçambicano se guiou por outras lógicas bem diversas.



Contudo, as conquistas da liberdade e da democracia que hoje usufruímos só serão definitivas quando se converterem em cultura de cada um de nós. E esse é ainda um caminho de gerações. Entretanto, pesam sobre Moçambique ameaças que são comuns a todo o continente. A fome, a miséria, as doenças, tudo isso nós partilhamos com o resto de África. Os números são aterradores: 90 milhões de africanos morrerão com SIDA nos próximos 20 anos. Para esse trágico número, Moçambique terá contribuído com cerca de 3 milhões de mortos. A maior parte destes condenados são jovens e representam exactamente a alavanca com que poderíamos remover o peso da miséria. Quer dizer, África não está só perdendo o seu próprio presente: está perdendo o chão onde nasceria um outro amanhã.



Ter futuro custa muito dinheiro. Mas é muito mais caro só ter passado. Antes da Independência, para os camponeses zambianos não havia futuro. Hoje o único tempo que para eles existe é o futuro dos outros.



Os desafios são maiores que esperança? Mas nós não podemos senão ser optimistas e fazer aquilo que os brasileiros chamam de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. O pessimismo é um luxo para os ricos.



A pergunta crucial é esta: o que é que nos separa desse futuro que todos queremos? Alguns acreditam que o que falta são mais quadros, mais escolas, mais hospitais. Outros acreditam que precisamos de mais investidores, mais projectos económicos. Tudo isso é necessário, tudo isso é imprescindível. Mas para mim, há uma outra coisa que é ainda mais importante. Essa coisa tem um nome: é uma nova atitude. Se não mudarmos de atitude não conquistaremos uma condição melhor. Poderemos ter mais técnicos, mais hospitais, mais escolas, mas não seremos construtores de futuro.



Falo de uma nova atitude mas a palavra deve ser pronunciada no plural, pois ela compõe um conjunto vasto de posturas, crenças, conceitos e preconceitos. Há muito que venho defendendo que o maior factor de atraso em Moçambique não se localiza na economia mas na incapacidade de gerarmos um pensamento produtivo, ousado e inovador. Um pensamento que não resulte da repetição de lugares comuns, de fórmulas e de receitas já pensadas pelos outros.



Às vezes me pergunto: de onde vem a dificuldade em nós pensarmos como sujeitos da História? Vem sobretudo de termos legado sempre aos outros o desenho da nossa própria identidade. Primeiro, os africanos foram negados. O seu território era a ausência, o seu tempo estava fora da História. Depois, os africanos foram estudados como um caso clínico. Agora, são ajudados a sobreviver no quintal da História.



Estamos todos nós estreando um combate interno para domesticar os nosso antigos fantasmas. Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei sete sapatos sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinah que escolher e sete é um número mágico.



O primeiro sapato: a ideia que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas



Nós já conhecemos este discurso. A culpa já foi da guerra, do colonialismo, do imperialismo, do apartheid, enfim, de tudo e de todos. Menos nossa. É verdade que os outros tiveram a sua dose de culpa no nosso sofrimento. Mas parte da responsabilidade sempre morou dentro de casa.



Estamos sendo vítimas de um longo processo de desresponsabilização. Esta lavagem de mãos tem sido estimulada por algumas elites africanas que querem permanecer na impunidade. Os culpados estão à partida encontrados: são os outros, os da outra etnia, os da outra raça, os da outra geografia.



Há um tempo atrás fui sacudido por um livro intitulado Capitalist Nigger: The Road to Success de um nigeriano chamado Chika A. Onyeani. Reproduzi num jornal nosso um texto desse economista que é um apelo veemente para que os africanos renovem o olhar que mantém sobre si mesmos. Permitam-me que leia aqui um excerto dessa carta.

Caros irmãos: Estou completamente cansado de pessoas que só pensam numa coisa: queixar-se e lamentar-se num ritual em que nos fabricamos mentalmente como vítimas. Choramos e lamentamos, lamentamos e choramos. Queixamo-nos até à náusea sobre o que os outros nos fizeram e continuam a fazer. E pensamos que o mundo nos deve qualquer coisa. Lamento dizer-vos que isto não passa de uma ilusão. Ninguém nos deve nada. Ninguém está disposto a abdicar daquilo que tem, com a justificação que nós também queremos o mesmo. Se quisermos algo temos que o saber conquistar. Não podemos continuar a mendigar, meus irmãos e minhas irmãs.

40 anos depois da Independência continuamos a culpar os patrões coloniais por tudo o que acontece na África dos nossos dias. Os nossos dirigentes nem sempre são suficientemente honestos para aceitar a sua responsabilidade na pobreza dos nossos povos. Acusamos os europeus de roubar e pilhar os recursos naturais de África. Mas eu pergunto-vos: digam-me, quem está a convidar os europeus para assim procederem, não somos nós? (fim da citação)



Queremos que outros nos olhem com dignidade e sem paternalismo. Mas ao mesmo tempo continuamos olhando para nós mesmos com benevolência complacente: Somos peritos na criação do discurso desculpabilizante. E dizemos:

· Que alguém rouba porque, coitado, é pobre (esquecendo que há milhares de outros pobres que não roubam)

· Que o funcionário ou o polícia são corruptos porque, coitados, tem um salário insuficiente (esquecendo que ninguém, neste mundo, tem salário suficiente)

· Que o político abusou do poder porque, coitado, na tal África profunda, essas praticas são antropologicamente legitimas



A desresponsabilização é um dos estigmas mais graves que pesa sobre nós, africanos de Norte a Sul. Há os que dizem que se trata de uma herança da escravatura, desse tempo em que não se era dono de si mesmo. O patrão, muitas vezes longínquo e invisível, era responsável pelo nosso destino. Ou pela ausência de destino.



Hoje, nem sequer simbolicamente, matamos o antigo patrão. Uma das formas de tratamento que mais rapidamente emergiu de há uns dez anos para cá foi a palavra “patrão”. Foi como se nunca tivesse realmente morrido, como se espreitasse uma oportunidade histórica para se relançar no nosso quotidiano. Pode-se culpar alguém desse ressurgimento? Não. Mas nós estamos criando uma sociedade que produz desigualdades e que reproduz relações de poder que acreditávamos estarem já enterradas.





Segundo sapato: a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho



Ainda hoje despertei com a notícia que refere que um presidente africano vai mandar exorcizar o seu palácio de 300 quartos porque ele escuta ruídos “estranhos” durante a noite. O palácio é tão desproporcionado para a riqueza do país que demorou 20 anos a ser terminado. As insónias do presidente poderão nascer não de maus espíritos mas de uma certa má consciência.



O episódio apenas ilustra o modo como, de uma forma dominante, ainda explicamos os fenómenos positivos e negativos. O que explica a desgraça mora junto do que justifica a bem-aventurança. A equipe desportiva ganha, a obra de arte é premiada, a empresa tem lucros, o funcionário foi promovido? Tudo isso se deve a quê? A primeira resposta, meus amigos, todos a conhecemos. O sucesso deve-se à boa sorte. E a palavra “boa sorte” quer dizer duas coisas: a protecção dos antepassados mortos e protecção dos padrinhos vivos.



Nunca ou quase nunca se vê o êxito como resultado do esforço, do trabalho como um investimento a longo prazo. As causas do que nos sucede (de bom ou mau) são atribuídas a forças invisíveis que comandam o destino. Para alguns esta visão causal é tida como tão intrinsecamente “africana” que perderíamos “identidade” se dela abdicássemos. Os debates sobre as “autenticas” identidades são sempre escorregadios. Vale a pena debatermos, sim, se não poderemos reforçar uma visão mais produtiva e que aponte para uma atitude mais activa e interventiva sobre o curso da História.



Infelizmente olhamo-nos mais como consumidores do que produtores. A ideia de que África pode produzir arte, ciência e pensamento é estranha mesmo para muitos africanos. Ate aqui o continente produziu recursos naturais e força laboral.



Produziu futebolistas, dançarinos, escultores. Tudo isso se aceita, tudo isso reside no domínio daquilo eu se entende como natureza”. Mas já poucos aceitarão que os africanos possam ser produtores de ideias, de ética e de modernidade. Não é preciso que os outros desacreditem. Nós próprios nos encarregamos dessa descrença.



O ditado diz. “o cabrito come onde está amarrado”. Todos conhecemos o lamentável uso deste aforismo e como ele fundamenta a acção de gente que tira partido das situações e dos lugares. Já é triste que nos equiparemos a um cabrito. Mas também é sintomático que, nestes provérbios de conveniência nunca nos identificamos como os animais produtores, como é por exemplo a formiga. Imaginemos que o ditado muda e passar a ser assim: “Cabrito produz onde está amarrado.” Eu aposto que, nesse caso, ninguém mais queria ser cabrito.



Terceiro sapato- O preconceito de quem critica é um inimigo



Muitas acreditam que, com o fim do monopartidarismo, terminaria a intolerância para com os que pensavam diferente. Mas a intolerância não é apenas fruto de regimes. É fruto de culturas, é o resultado da História. Herdamos da sociedade rural uma noção de lealdade que é demasiado paroquial. Esse desencorajar do espírito crítico é ainda mais grave quando se trata da juventude. O universo rural é fundado na autoridade da idade. Aquele que é jovem, aquele que não casou nem teve filhos, esse não tem direitos, não tem voz nem visibilidade. A mesma marginalização pesa sobre a mulher.



Toda essa herança não ajuda a que se crie uma cultura de discussão frontal e aberta. Muito do debate de ideias é, assim, substituído pela agressão pessoal. Basta diabolizar quem pensa de modo diverso. Existe uma variedade de demónios à disposição: uma cor política, uma cor de alma, uma cor de pele, uma origem social ou religiosa diversa.



Há neste domínio um componente histórico recente que devemos considerar: Moçambique nasceu da luta de guerrilha. Essa herança deu-nos um sentido épico da história e um profundo orgulho no modo como a independência foi conquistada. Mas a luta armada de libertação nacional também cedeu, por inércia, a ideia de que o povo era uma espécie de exército e podia ser comandado por via de disciplina militar. Nos anos pós-independência, todos éramos militantes, todos tínhamos uma só causa, a nossa alma inteira vergava-se em continência na presença dos chefes. E havia tantos chefes. Essa herança não ajudou a que nascesse uma capacidade de insubordinação positiva.



Faço-vos agora uma confidência. No início da década de 80 fiz parte de um grupo de escritores e músicos a quem foi dada a incumbência de produzir um novo Hino Nacional e um novo Hino para o Partido Frelimo. A forma como recebemos a tarefa era indicadora dessa disciplina: recebemos a missão, fomos requisitados aos nossos serviços, e a mando do Presidente Samora Machel fomos fechados numa residência na Matola, tendo-nos sido dito: só saem daí quando tiverem feito os hinos. Esta relação entre o poder e os artistas só é pensável num dado quadro histórico. O que é certo é que nós aceitámos com dignidade essa incumbência, essa tarefa surgia como uma honra e um dever patriótico. E realmente lá nos comportamos mais ou menos bem. Era um momento de grandes dificuldades …e as tentações eram muitas. Nessa residência na Matola havia comida, empregados, piscina… num momento em que tudo isso faltava na cidade. Nos primeiros dias, confesso nós estávamos fascinados com tanta mordomia e ficávamos preguiçando e só corríamos para o piano quando ouvíamos as sirenes dos chefes que chegavam. Esse sentimento de desobediência adolescente era o nosso modo de exercermos uma pequena vingança contra essa disciplina de regimento.



Na letra de um dos hinos lá estava reflectida essa tendência militarizada, essa aproximação metafórica a que já fiz referência:



Somos soldados do povo

Marchando em frente



Tudo isto tem que ser olhado no seu contexto sem ressentimento. Afinal, foi assim, que nasceu a Pátria Amada, este hino que nos canta como um só povo, unido por um sonho comum.





Quarto sapato: a ideia que mudar as palavras muda a realidade



Uma vez em Nova Iorque um compatriota nosso fazia uma exposição sobre a situação da nossa economia e, a certo momento, falou de mercado negro. Foi o fim do mundo. Vozes indignadas de protesto se ergueram e o meu pobre amigo teve que interromper sem entender bem o que se estava a passar. No dia seguinte recebíamos uma espécie de pequeno dicionário dos termos politicamente incorrectos. Estavam banidos da língua termos como cego, surdo, gordo, magro, etc…



Nós fomos a reboque destas preocupações de ordem cosmética. Estamos reproduzindo um discurso que privilegia o superficial e que sugere que, mudando a cobertura, o bolo passa a ser comestível. Hoje assistimos, por exemplo, a hesitações sobre se devemos dizer “negro” ou “preto”. Como se o problema estivesse nas palavras, em si mesmas. O curioso é que, enquanto nos entretemos com essa escolha, vamos mantendo designações que são realmente pejorativas como as de mulato e de monhé.



Há toda uma geração que está aprendendo uma língua – a língua dos workshops. É uma língua simples uma espécie de crioulo a meio caminho entre o inglês e o português. Na realidade, não é uma língua mas um vocabulário de pacotilha. Basta saber agitar umas tantas palavras da moda para falarmos como os outros isto é, para não dizermos nada. Recomendo-vos fortemente uns tantos termos como, por exemplo:



- desenvolvimento sustentável

- awarenesses ou accountability

- boa governação

- parcerias sejam elas inteligentes ou não

- comunidades locais





Estes ingredientes devem ser usados de preferência num formato “powerpoint. Outro segredo para fazer boa figura nos workshops é fazer uso de umas tantas siglas. Porque um workshopista de categoria domina esses códigos. Cito aqui uma possível frase de um possível relatório: Os ODMS do PNUD equiparam-se ao NEPAD da UA e ao PARPA do GOM. Para bom entendedor meia sigla basta.



Sou de um tempo em que o que éramos era medido pelo que fazíamos. Hoje o que somos é medido pelo espectáculo que fazemos de nós mesmos, pelo modo como nos colocamos na montra. O CV, o cartão de visitas cheio de requintes e títulos, a bibliografia de publicações que quase ninguém leu, tudo isso parece sugerir uma coisa: a aparência passou a valer mais do que a capacidade para fazermos coisas.



Muitas das instituições que deviam produzir ideias estão hoje produzindo papéis, atafulhando prateleiras de relatórios condenados a serem arquivo morto. Em lugar de soluções encontram-se problemas. Em lugar de acções sugerem-se novos estudos.





Quinto sapato A vergonha de ser pobre e o culto das aparências



A pressa em mostrar que não se é pobre é, em si mesma, um atestado de pobreza. A nossa pobreza não pode ser motivo de ocultação. Quem deve sentir vergonha não é o pobre mas quem cria pobreza.



Vivemos hoje uma atabalhoada preocupação em exibirmos falsos sinais de riqueza. Criou-se a ideia que o estatuto do cidadão nasce dos sinais que o diferenciam dos mais pobres.



Recordo-me que certa vez entendi comprar uma viatura em Maputo. Quando o vendedor reparou no carro que eu tinha escolhido quase lhe deu um ataque. “Mas esse, senhor Mia, o senhor necessita de uma viatura compatível”. O termo é curioso: “compatível”.



Estamos vivendo num palco de teatro e de representações: uma viatura já é não um objecto funcional. É um passaporte para um estatuto de importância, uma fonte de vaidades. O carro converteu-se num motivo de idolatria, numa espécie de santuário, numa verdadeira obsessão promocional.



Esta doença, esta religião que se podia chamar viaturolatria atacou desde o dirigente do Estado ao menino da rua. Um miúdo que não sabe ler é capaz de conhecer a marca e os detalhes todos dos modelos de viaturas. É triste que o horizonte de ambições seja tão vazio e se reduza ao brilho de uma marca de automóvel.



É urgente que as nossas escolas exaltem a humildade e a simplicidade como valores positivos.



A arrogância e o exibicionismo não são, como se pretende, emanações de alguma essência da cultura africana do poder. São emanações de quem toma a embalagem pelo conteúdo.



Sexto Sapato A passividade perante a injustiça



Estarmos dispostos a denunciar injustiças quando são cometidas contra a nossa pessoa, o nosso grupo, a nossa etnia, a nossa religião. Estamos menos dispostos quando a injustiça é praticada contra os outros. Persistem em Moçambique zonas silenciosas de injustiça, áreas onde o crime permanece invisível. Refiro-me em particular à:



- violência domestica (40 por cento dos crimes resultam de agressão domestica contra mulheres, esse é um crime invisível)

- violência contra as viúvas

- à forma aviltante como são tratados muitos dos trabalhadores

- aos maus tratos infligidos às crianças



Ainda há dias ficamos escandalizados com o recente anúncio que privilegiava candidatos de raça branca. Tomaram-se medidas imediatas e isso foi absolutamente correcto. Contudo, existem convites à discriminação que são tão ou mais graves e que aceitamos como sendo naturais e inquestionáveis.



Tomemos esse anúncio do jornal e imaginemos que ele tinha sido redigido de forma correcta e não racial. Será que tudo estava bem? Eu não sei se todos estão a par de qual é a tiragem do jornal Notícias. São 13 mil exemplares. Mesmo se aceitarmos que cada jornal é lido por 5 pessoas, temos que o numero de leitores é menor que a população de um bairro de Maputo. É dentro deste universo que circulam convites e os acessos a oportunidades. Falei na tiragem mas deixei de lado o problema da circulação. Por que geografia restrita circulam as mensagens dos nossos jornais? Quanto de Moçambique é deixado de fora ?



É verdade que esta discriminação não é comparável à do anúncio racista porque não é não resultado de acção explícita e consciente. Mas os efeitos de discriminação e exclusão destas práticas sociais devem ser pensados e não podem cair no saco da normalidade. Esse “bairro” das 60 000 pessoas é hoje uma nação dentro da nação, uma nação que chega primeiro, que troca entre si favores, que vive em português e dorme na almofada na escrita.



Um outro exemplo. Estamos administrando anti-retro-virais a cerca de 30 mil doentes com SIDA. Esse número poderá, nos próximos anos, chegar aos 50 000. Isso significa que cerca de um milhão quatrocentos e cinquenta mil doentes ficam excluídos de tratamento. Trata-se de uma decisão com implicações éticas terríveis. Como e quem decide quem fica de fora? É aceitável, pergunto, que a vida de um milhão e meio de cidadãos esteja nas mãos de um pequeno grupo técnico?





Sétimo sapato - A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros



Todos os dias recebemos estranhas visitas em nossa casa. Entram por uma caixa mágica chamada televisão. Criam uma relação de virtual familiaridade. Aos poucos passamos a ser nós quem acredita estar vivendo fora, dançando nos braços de Janet Jackson. O que os vídeos e toda a sub-indústria televisiva nos vem dizer não é apenas “comprem”. Há todo um outro convite que é este: “sejam como nós”. Este apelo à imitação cai como ouro sobre azul: a vergonha em sermos quem somos é um trampolim para vestirmos esta outra máscara.



O resultado é que a produção cultural nossa se está convertendo na reprodução macaqueada da cultura dos outros. O futuro da nossa música poderá ser uma espécie de hip-hop tropical, o destino da nossa culinária poderá ser o Mac Donald’s.



Falamos da erosão dos solos, da deflorestação, mas a erosão das nossas culturas é ainda mais preocupante. A secundarização das línguas moçambicanas (incluindo da língua portuguesa) e a ideia que só temos identidade naquilo que é folclórico são modos de nos soprarem ao ouvido a seguinte mensagem: só somos modernos se formos americanos.



O nosso corpo social tem a uma história similar a de um indivíduo. Somos marcados por rituais de transição: o nascimento, o casamento, o fim da adolescência, o fim da vida.



Eu olho a nossa sociedade urbana e pergunto-me: será que queremos realmente ser diferentes ? Porque eu vejo que esses rituais de passagem se reproduzem como fotocópia fiel daquilo que eu sempre conheci na sociedade colonial. Estamos dançando a valsa, com vestidos compridos, num baile de finalistas que é decalcado daquele do meu tempo. Estamos copiando as cerimónias de final do curso a partir de modelos europeus de Inglaterra medieval. Casamo-nos de véus e grinaldas e atiramos para longe da Julius Nyerere tudo aquilo que possa sugerir uma cerimónia mais enraizada na terra e na tradição moçambicanas.



Falei da carga de que nos devemos desembaraçar para entrarmos a corpo inteiro na modernidade. Mas a modernidade não é uma porta apenas feita pelos outros. Nós somos também carpinteiros dessa construção e só nos interessa entrar numa modernidade de que sejamos também construtores.



A minha mensagem é simples: mais do que uma geração tecnicamente capaz, nós necessitamos de uma geração capaz de questionar a técnica. Uma juventude capaz de repensar o país e o mundo. Mais do que gente preparada para dar respostas, necessitamos de capacidade para fazer perguntas. Moçambique não precisa apenas de caminhar. Necessita de descobrir o seu próprio caminho num tempo enevoado e num mundo sem rumo. A bússola dos outros não serve, o mapa dos outros não ajuda. Necessitamos de inventar os nossos próprios pontos cardeais. Interessa-nos um passado que não esteja carregado de preconceitos, interessa-nos um futuro que não nos venha desenhado como um receita financeira.



A Universidade deve ser um centro de debate, uma fábrica de cidadania activa, uma forja de inquietações solidárias e de rebeldia construtiva. Não podemos treinar jovens profissionais de sucesso num oceano de miséria. A Universidade não pode aceitar ser reprodutor da injustiça e da desigualdade. Estamos lidando com jovens e com aquilo que deve ser um pensamento jovem, fértil e produtivo. Esse pensamento não se encomenda, não nasce sozinho. Nasce do debate, da pesquisa inovadora, da informação aberta e atenta ao que de melhor está surgindo em África e no mundo.



A questão é esta: fala-se muito dos jovens. Fala-se pouco com os jovens. Ou melhor, fala-se com eles quando se convertem num problema. A juventude vive essa condição ambígua, dançando entre a visão romantizada (ela é a seiva da Nação) e uma condição maligna, um ninho de riscos e preocupações (a SIDA, a droga, o desemprego).



Não foi apenas a Zâmbia a ver na educação aquilo que o naufrago vê num barco salva-vidas. Nós também depositamos os nossos sonhos nessa conta.



Numa sessão pública decorrida no ano passado em Maputo um já idoso nacionalista disse, com verdade e com coragem, o que já muitos sabíamos. Ele confessou que ele mesmo e muitos dos que, nos anos 60, fugiam para a FRELIMO não eram apenas motivados por dedicação a uma causa independentista. Eles arriscaram-se e saltaram a fronteira do medo para terem possibilidade de estudar. O fascínio pela educação como um passaporte para uma vida melhor estava presente um universo em que quase ninguém podia estudar. Essa restrição era comum a toda a África. Até 1940 o número de africanos que frequentavam escolas secundárias não chegava a 11 000. Hoje, a situação melhorou e esse número foi multiplicado milhares e milhares de vezes. O continente investiu na criação de novas capacidades. E esse investimento produziu, sem dúvida, resultados importantes.



Aos poucos se torna claro, porém, que mais quadros técnicos não resolvem, só por si, a miséria de uma nação. Se um país não possuir estratégias viradas para a produção de soluções profundas então todo esse investimento não produzirá a desejada diferença. Se as capacidades de uma nação estiverem viradas para o enriquecimento rápido de uma pequena elite então de pouco valerá termos mais quadros técnicos.



A escola é um meio para querermos o que não temos. A vida, depois, nos ensina a termos aquilo que não queremos. Entre a escola e a vida resta-nos ser verdadeiros e confessar aos mais jovens que nós também não sabemos e que, nós, professores e pais, também estamos à procura de respostas.



Com o novo governo ressurgiu o combate pela auto-estima. Isso é correcto e é oportuno. Temos que gostar de nós mesmos, temos que acreditar nas nossas capacidades. Mas esse apelo ao amor-próprio não pode ser fundado numa vaidade vazia, numa espécie de narcisismo fútil e sem fundamento. Alguns acreditam que vamos resgatar esse orgulho na visitação do passado. É verdade que é preciso sentir que temos raízes e que essas raízes nos honram. Mas a auto-estima não pode ser construída apenas de materiais do passado.



Na realidade, só existe um modo de nos valorizar: é pelo trabalho, pela obra que formos capazes de fazer. É preciso que saibamos aceitar esta condição sem complexos e sem vergonha: somos pobres. Ou melhor, fomos empobrecidos pela História. Mas nós fizemos parte dessa História, fomos também empobrecidos por nós próprios. A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós.



Mas a força de superarmos a nossa condição histórica também reside dentro de nós. Saberemos como já soubemos antes conquistar certezas que somos produtores do nosso destino. Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os setes mas todos os sapatos que atrasam a nossa marcha colectiva. Porque a verdade é uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros.


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Oração de Sapiência na abertura do ano lectivo no ISCTEM